Vou, com alguma frequência, buscar a pirralha à escola. A mãe trabalha até às 18 horas, o pai até às 20 horas, e a miúda costuma sair por volta das 16h30m. Pelo menos, a hora de saída é essa. Costuma chegar ao pé de mim quando já são quase 17 horas, depois de muitos telefonemas e com um recepção com má cara seguida de um 'estás a brincar comigo?'. Isto quando não tenho que a ir procurar dentro da escola e lá está ela, toda contente na conversa com as amigas.
Tinha resolvido esta questão há já algum tempo. Não que ela me tenha dado ouvidos às várias vezes que lhe dizia 'mal saias vens logo para a porta ou ligas à mãe para saber quem te vem buscar e a que horas'. Nada. Solução: comecei a sair de casa às 16h30m, hora de saída dela. Assim com o tempo de chegar lá e de ela sair a espera ficava reduzida a cerca de 5 minutos. Sim, mesmo só saindo de casa à hora de saída e fazendo o percurso todo até à escola, ainda tinha que esperar pela madame. E depois de tudo isto ainda nos restava um trânsito infernoso no meio de conversas sobre testes, trabalhos e dilemas da vida de uma adolescente.
Mas houve um dia que foi diferente. Apesar de todo este ritual se manter, houve qualquer coisa de estranho. A miúda atende logo o telefone e, em vez do normal 'JÁ ESTOU A IR!!!' saiu um 'estou a caminho Di'. E em menos de um minuto lá estava ela, cheia de malas e tranquila, em vez do habitual show de miúda crescida que dava para as amiguinhas que a levavam ao carro. Hmmm, tudo muito estranho.
Depois a estranheza continuou... Muito calada, muito bem comportadinha, de poucas palavras. Ainda lhe perguntei 'está tudo bem? Passa-se alguma coisa?'.... 'Não Di, nada'. Ah, o rádio estava desligado, talvez fosse esse o motivo de as coisas estarem mais calminhas que o habitual. A medo, lá lhe disse que não íamos directas para casa porque ainda tinha que passar num sítio para levantar uma coisa. Esperava uma fita de todo o tamanho, uma vez que o Disney Channel e o meu computador estavam à espera dela. Nada. Nem um pio. Estranho... mas bom!
Passado algum tempo solta a bomba: 'Di, tenho namorado', como se nada fosse. Descontraída, mas a dizer esta bomba. Estava tudo explicado! A piquena deveria estar aquele tempo todo no conto-não conto. Lá contou. E não se livrou das perguntas: 'E quem é?' 'Foi ele que fez o pedido?' 'Como é que aconteceu?'. Controlei-me com todas as minhas forças para a pergunta da praxe 'Como é que tu namoras?' querendo eu perceber com isto se a coisa não passava de mãos dadas e beijinhos na cara. Com medo da resposta, não perguntei. Afinal a criança está a crescer e eu não estou a acompanhar por isso mais vale não saber tudo de uma vez, que ainda tínhamos um acidente de carro.
Lá vieram as respostas, a medo, e arrancadas como se de um ponto negro se tratasse (desculpem a imagem!). 'Tu conheces, é o X que estava lá na minha festa de anos'. Ah, era o mesmo X que há semanas atrás era aquele amigo que era mesmo só amigo e que tinham uma relação muito boa, de amizade. Mas o melhor vem depois. Então não é que o piqueno tinha uma namorada que não gostava, a namorada dele queixava-se que ele não lhe dava atenção - os dramas são os mesmos, independentemente da idade - e a minha princesa também não estava bem por gostar do rapaz e não namorar com ele. Diz que foi uma amiga de ambos que acabou com a relação dos miúdos e avisou a minha coqueluche que eles agora eram namorados. 'Que confusão', disse eu. 'Então Di, ele estava infeliz por não gostar dela, ela estava infeliz por ele não passar mais tempo com ela, e eu estava infeliz por não estar com ele, assim só fica uma pessoa infeliz'. Como??
Passou-me pela cabeça ir pelo discurso moral de toda a história, que as coisas deveriam ter sido feitas de uma maneira mais tranquila, sem grande confusão... Mas não me apeteceu. Afinal foi a minha pirralha que ficou bem no meio disto tudo. Decidi mudar de assunto e deixar este discurso para os pais dela, eles que se safem. Já não basta as perguntas de resposta difícil que a miúda me tem feito nestes últimos tempos...
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