5.5.13

O DRAMA DA ARÁBIA SAUDITA

Veio agora a público uma notícia que está a correr o mundo. Então diz que um senhor bem parecido foi expulso da Arábia Saudita, juntamente com mais dois senhores igualmente bem parecidos, por serem demasiado bonitos. A Comissão para a Promoção da Virtude e Prevenção de vícios (ou polícia religiosa, como é tratada) prendeu os 'criminosos' e, posteriormente, expulsou-os do país. Vêm agora dizer que não foi apenas pelas suas aparências, mas por estarem num festival cultural, num stand em que uma mulher também lá estava, o que não é permitido. 

Da minha experiência deste país - tive lá 35 dias que mais pareceram 355 - digo-vos que há muita coisa complicada, principalmente para os estrangeiros que, como eu, lá estavam a trabalhar, mas que também não é assim tão complicado. É, sem dúvida, o país árabe mais restrito e mais rigoroso. Se respeitar-mos as regras não há problemas, há apenas uma seca descomunal. Mas o que tem que ser tem muita força. Aproveito para vos contar algumas das minhas experiências por lá, coisas que me aconteceram, coisas que me disseram, coisas que aconteceram a colegas minhas:

  1. As mulheres têm que andar tapadas: quando lá cheguei não tinha noção que as estrangeiras também teriam que vestir a abaya. Pensei que se andasse tapadinha com a minha roupa bastava. Mas não. Cheguei fardada ao hotel e disseram-me que, para sair do quarto, teria que ter a abaya vestida. Ora, eu não tinha abaya, e tive que esperar pela boa vontade de um colega meu que me foi comprar uma, 24 horas depois. Não andava de cabeça tapada, apesar de ser obrigatório. Como éramos estrangeiras eles facilitavam nesse processo, à excepção das loiras, que são consideradas um pecado da tentação. Algumas colegas minhas disseram que foram abordadas pela polícia religiosa por estarem de cabelo destapado.
  2. As mulheres não podem fumar: Pelo menos na rua. Disseram-me que isso só seria possível na presença de um homem que autorizasse. Não sei se essa homem teria que ser Árabe, o que é certo é que sempre que andava na rua a fumar, sempre na presença de homens, havia sempre algum Árabe que olhava para o homem, em jeito de perguntar se ele teria dado ou não a autorização. Os homens teriam que acenar com a cabeça e os Árabes lá passavam por mim, com ar de reprovação. Houve um dia em que estava apenas com uma colega minha e fumei. Era proibido fumar naquele sítio e eu não sabia mas o guarda que lá estava teve algumas reservas em vir falar comigo, apontando apenas para o sinal, sem me olhar de frente, uma vez que era uma pecadora.
  3. As mulheres podem ser ignoradas: Assisti eu, o que me fez bastante confusão: Estava na fila da GAP para pagar e estavam duas senhoras completamente tapadas à minha frente, com um monte enorme de roupa de homem. Quando chegou a altura de pagar, não houve qualquer tipo de contacto. Nem do lojista, nem delas. No pagamento, o lojista, sem olhar para a senhora, atirou a caneta para ela assinar com tanta força que a caneta caiu no chão, e não houve um 'desculpe' ou um 'obrigada'. Não falaram! Quando chegou a minha vez lá tentei falar em inglês com o senhor, que não percebia muito do que eu estava a dizer e que estava notoriamente incomodado.
  4. Não existem provadores para mulheres: A primeira loja de roupa em que entrei era de uma marca que temos por cá. Ao ver que os preços estavam mais acessíveis e que tinha coisas diferentes decidi pegar nuns calções e procurar um provador. Apenas existiam provadores junto à zona da roupa masculina o que para mim não era mais do que falta de organização. Entrei, despi-me, vesti os calções e ouvi gritos do outro lado da cortina. Então não é que as mulheres não podem experimentar roupa nas lojas, nem sequer existem provadores para tal? O senhor mandou-me sair aos gritos. Vesti-me, saí e ele disse baixinho 'podes vestir mas veste rápido antes que eles vejam'. Ainda tentou por os calções à minha frente para ver se serviam mas estava sempre aos gritos a dizer para sairmos, não fosse alguém ver o que ele estava a fazer. Saí, pedi desculpa, e acabei por não comprar nada.
  5. As estrangeiras são a perdição: isto é tudo muito restrito mas aconteceram várias vezes tentativas de flirts por parte dos homens. Se saía à rua e estava vento, a minha abaya abria-se (tinha sempre roupa leve por baixo, uma vez que estava um calor insuportavel). Eram carros a apitar, bocas lá na língua deles, risos e coisas do género. Já a negociar preços numa loja de relógios, os senhores foram demasiado simpáticos, a pedir para lá voltarmos. Voltei porque o relógio que tinha comprado se tinha partido, e o senhor arranjou sem me cobrar nada, no meio de imensos sorrisos. 
  6. Pecados censurados: A maioria dos outdoors da Arábia Saudita tinham as caras censuradas. Homens e mulheres. Anúncios de homens para grandes marcas mas com a cara tapada. 
  7. Carinhos em público não: encontraram um amigo que já não viam há muito tempo? Digam apenas um 'olá'. Não se riam muito, muito menos se for de uma conversa numa língua que eles não percebam. Mesmo na praia dos 'pecadores' em que o biquíni era autorizado às mulheres, as conversas na água de uma mulher com um homem eram logo alvo de críticas pelos locais. Devo confessar que fui expulsa da água por um homem com um espanador na mão...


No meio disto tudo, tinha ficado com a ideia que os homens podiam fazer tudo e que as mulheres não podiam fazer nada, eram tidas com um ser que deveria ser ignorado, pelo menos na rua. Pelos vistos, os homens afinal podem fazer tudo, menos serem bonitos...

D

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